sexta-feira, 13 de abril de 2012

O meu triciclo azul

Hoje sem querer, voltei à minha infância de quando nas ruas brincava de roda ou de triciclo.

Numa bela tarde de sol de Primavera ou de Verão, não me recordo, andava eu a dar a volta ao bairro, ou seja ao quarteirão, no meu triciclo de banco madeira pintada de azul, que o Menino Jesus me tinha deixado na chaminé, quando eu tinha quatro anos.

Esse triciclo azul que um dia carreguei debaixo do braço, para fugir do polícia que a brincar, me inquiria ao voltar da esquina com sua voz séria de autoridade:

- O que anda a menina a fazer sozinha, a esta hora na rua?

Acho que não voltei mais à rua com esse velocípede, pois não entendi que a pergunta do polícia era de brincadeira. Entrei em casa cansada, ofegante e lavada em lágrimas. O triciclo arrumadinho ficou atrás da porta do quarto do meio, esse triciclo que ainda recordo, nunca mais de lá saiu para brincar na rua.

Mas a brincar de roda ou às escondidas eu continuei com os meninos e meninas da minha idade nos largos passeios de então.

Os passeios largos calcetados de pedra branca eram largos e a estrada de paralelepípedos de basalto preto .Os carros que por lá passavam eram poucos e estacionados menos ainda, lembro-me apenas de quatro carros pertencentes aos vizinhos que tinham negócio próprio.

O do senhor Rogério que tinha uma drogaria, o do senhor Lopes que também era droguista aqui no bairro, o do senhor Mendes que era dono de uma fábrica de fechos de correr e o outro era a furgoneta cinzenta escura, do senhor Varela que para arrancar, o baixinho, subia em cima da manivela que ligava ao motor e com os pés forçava-a para que o motor arrancasse e pudesse então sair e fazer a distribuição e venda dos produtos de mercearia.

O Varela distribuía tudo ou quase tudo que as mercearias então vendiam. Uma das coisas que vendia era a Farinha Amparo, que dava prémios na troca de umas quantas embalagens vazias. Lembro de ter ganho uma boneca de Papelão quase tão grande como eu. Foi a boneca maior que tive e que muito bem a tratei durante vários anos. Lembro-me vagamente do vestido que minha mãe lhe fez, porque eu ainda não sabia como se fazia.

A minha prima Isabel, mais velha do que eu dois anos e muito mais desinibida do que eu, pois eu era muito envergonhada e chorona, deixa eu dizer isso, para que ela não o diga, também teve uma boneca igual à minha.

Ainda me lembro do tanque de lavar roupa, que ficava ao cimo das escadas íngremes de cimento, onde ela um dia decidiu dar banho à boneca. Coitada da boneca só tomou um banho na vida. O cartão inchou e se desfez na água do banho e lá foi ela, desfez-se para nunca mais voltar aos braços da sua amiga e dona que deve ter chorado baba e ranho sem tamanho.

O PRA que terminei ontem, fez-me recordar algumas vivencias desde menina, este texto não fez parte desse PRA, mas estes factos foram nele lembrados também.

Recordar é viver e foi isso que acabei de fazer.

Meu abraço fraterno

Clementina Gaspar

13 de Abril de 2012

4 comentários:

Isabel disse...

rsrsrsrsrsrrsrsrsrs por esta eu não esperava!!! Sabes que eu não me lembro nada dessa boneca?? Estás a ver eu era mais desinibida e burra rsrsrsrssrs.

Gostei!!

Beijinhos prima!

BrancaLisboa disse...

Olá prima,
Não eras nem nunca foste burra, apenas gostavas das bonecas bem lavadinhas....rsrsr
Eu lembro-me da minha boneca,sobre a tua lembro-me da minha mãe me contar. Quando isso aconteceu eu deveria ter uns 3 ou 4 anos.
Uma coisa boa deste PRA, foi o ter que trabalhar em cima de diversas vivencias por que passei e assim recordei algumas coisas que estavam meio adormecidas.
Meu abraço

Rosana Sperotto disse...

Olá, Clementina! Vim agradecer a visita e as palavras carinhosas deixadas lá no Amém e te conhecer um pouquinho. Abraço grande!

BrancaLisboa disse...

Olá Rosana,
Aradeço sua visita de coração.
Um abraço grande para vc.